terça-feira, 25 de maio de 2021

DIÁFANOS


DIÁFANOS


“Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez a tua rosa tão importante.” - Antoine de Saint-Exupéry
(Trecho de "O Pequeno Príncipe”)


Todos já sentimos o peso de uma máscara. Falo isso no sentido metafórico, mas a verdade é que estamos em todo momento fugindo de algum tribunal. Tribunal da família, tribunal da sociedade, tribunal dos desconhecidos e o tribunal de si mesmo. Este, talvez, seja o pior e o mais implacável de todos eles.


Ansiamos, de alguma forma, nos sentir seguros para tirar tais máscaras (e são muitas pois sobrepomos muitas delas conforme cada ocasião). Pois por trás destas, sentimos medo, vergonha, paixões, amores, raiva, mágoas. Represamos nossas águas ou retemos o fogo de um vulcão.


Acontece que, às vezes e somente ás vezes, conseguimos encontrar algo, alguém ou até nós mesmos que ousam chegar perto o suficiente para enxergar além das armaduras e muros que nos cercam... em um ato de rebeldia nos deixamos tocar, mesmo que por um instante, por um toque que julgamos ser diferente.


Há um pássaro selvagem querendo voar. Um rio caudaloso que quer inundar. Um mar profundo, revolto e cheio de vida querendo emergir. Há um vulcão cheio de “fúria” querendo mostrar sua força e beleza.


O fato é que tememos ser o que somos! Tornamos-nos opacos e sem transparência. Escondemos nossa essência e nos abrimos para alguns raros. E esse raro é o que importa porque este é quem vê a transparência de um olhar ou consegue ler cada entrelinha entrelaçada em meio às palavras.


Sim... o mar se torna transparente mostrando toda sua beleza. O rio, com suas curvas, gera vida e paz. O pássaro voa livre e volta sempre. O vulcão se torna belo porque explodiu em calor e força.


Tamanha diafanidade, contudo nos tornam vulneráveis. Só posso dizer que vale a pena! São pequenas lagartas que precisamos suportar para poder ver as borboletas.


segunda-feira, 10 de maio de 2021

UMA BORBOLETA ME DISSE

 

(imagem: www.lojinhadoteo.com.br)



UMA BORBOLETA ME DISSE

"As nossas linhas... se não fossem tortas, não teriam se encontrado." - Morada (Sandy)


Encontrei uma borboleta. Ela me disse que seu nome era Beĩ e me explicou que seu nome significava "um pouco mais" em Tupi. E sua vida foi, assim, sempre "um pouco mais"!

Beĩ, bela e livre! Todavia, disse-me que a vida de borboleta não é fácil, é perigosa visto que há muitos predadores no mundo que costumam atacar de forma traiçoeira. Ela me mostrou várias de suas cicatrizes adquiridas na vida e no tempo.

Fiz um pacto de amizade com Beĩ. É um pacto simples: ser verdadeiros, corajosos e transparentes.

Clarice Lispector desenvolve a tese de que ficamos diferentes quando juntos de nossos amigos! Acho que ela tem razão! Davi, Rei de Israel, dizia que sua amizade com Jônatas era mais importante que o "amor da mulheres"! E a verdade, comprovada por tantas histórias de amizade, é que precisamos, sim, de amigos para enfrentar a vida!

Assim, com um começo despretensioso, encontrei Beĩ! Uma borboleta ocupada em ser borboleta! Mas, que vez ou outra pousa por perto. Pousa para descansar, contar histórias, ouvir ou, apenas, ficar em silêncio junto com o meu...

Pois bem... Contei para ela coisas profundas e sentimentos ocultos.

Ela acolheu, beijou meu rosto e disse:

"E eu desejo que a gente consiga se reunir em outro nível de vínculo. 
Também te desejo caminhadas à beira da praia e vento no rosto
Te desejo voos de pipa e companheirismo de filho. 
Te desejo individualidade, mesmo acompanhado, coragem e liberdade
Te desejo os sorrisos que sorríamos às segundas-feiras, para todos os dias. 
Te desejo abraços intermináveis de filha e colo de mãe. 
Te desejo sonhos sonhados, não os comprados na padaria. 
Te desejo vulcões ativos e mergulhos profundos
Te desejo uma dança de olhos fechados e um banho de chuva.
Te desejo um livro, no qual você possa ler e contar sua própria história."

Espero que haja tempo para todas essas coisas...

Obrigado, Beĩ!!!

terça-feira, 4 de maio de 2021

ENTRE AS LINHAS

 


ENTRE AS LINHAS

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Sempre digo aos meus filhos, ainda que não entendam muito bem toda a sabedoria disso, para que olhem além do óbvio! Leiam as entrelinhas, escutem o que dizem além das palavras e vejam além do que está no primeiro plano...

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Há 3 anos, rabisquei isso e mostrei aos dois... como era de se esperar, Samuel, na época com 6 anos, não conseguiu reconhecer o que está escrito, mas Thalita, que sempre teve um outro olhar, imediatamente leu!

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Quando eu era criança, eu lia compulsivamente histórias em quadrinhos e cheguei a ter uma modesta coleção de aproximadamente 1.200 “gibis”! A maioria era Maurício de Souza e Carl Barks... Sabe o que eu achava mais legal e interessante? Algumas histórias contadas no fundo dos quadrinhos!!! Rolava uma historinha secundária, normalmente divertida, que não tinha nada a ver com a história do primeiro plano!

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Encaro isso na vida! Quem é de fato a pessoa com quem estou falando?

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Recentemente o poeta @zackmagiezi fez uma pequena provocação dizendo “me fale algo sobre você...” Ele diz assim: “Me fale algo sobre você / Me fale sobre a sua sombra / Me fale sobre a sua dor / Suas manias bobas...”. É necessário estar interessado nessas coisas! É necessário dedicação para “desenterrar” tais coisas! É necessário, também, se abrir em uma troca totalmente justa.

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Eu sei que não é um exercício fácil! De modo geral, olha-se para quase tudo e, infelizmente, para quase todos de uma forma muito superficial. As relações tornam-se descartáveis, pois é muito fácil substituir qualquer coisa hoje em dia. Ir além da ponta do iceberg requer tempo, energia e entrega.

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Por fim, ajuste o foco das suas lentes (ou tente enxergar pelas lentes do outro)! Preste um pouco mais de atenção naquilo que está por trás das “telas”. Leia os olhares pois denunciam a verdade das palavras.

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Beijo para quem é de beijo e abraço para quem é de abraço!

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(Você conseguiu ler o que está na imagem? Escreva "sim" ou "não" nos comentários.)