DIÁFANOS
Todos já sentimos o peso de uma
máscara. Falo isso no sentido metafórico, mas a verdade é que estamos em todo
momento fugindo de algum tribunal. Tribunal da família, tribunal da sociedade,
tribunal dos desconhecidos e o tribunal de si mesmo. Este, talvez, seja o pior e
o mais implacável de todos eles.
Ansiamos, de alguma forma, nos
sentir seguros para tirar tais máscaras (e são muitas pois sobrepomos muitas
delas conforme cada ocasião). Pois por trás destas, sentimos medo, vergonha,
paixões, amores, raiva, mágoas. Represamos nossas águas ou retemos o fogo de um
vulcão.
Acontece que, às vezes e somente
ás vezes, conseguimos encontrar algo, alguém ou até nós mesmos que ousam chegar
perto o suficiente para enxergar além das armaduras e muros que nos cercam...
em um ato de rebeldia nos deixamos tocar, mesmo que por um instante, por um
toque que julgamos ser diferente.
Há um pássaro selvagem querendo
voar. Um rio caudaloso que quer inundar. Um mar profundo, revolto e cheio de
vida querendo emergir. Há um vulcão cheio de “fúria” querendo mostrar sua força
e beleza.
O fato é que tememos ser o que
somos! Tornamos-nos opacos e sem transparência. Escondemos nossa essência e nos
abrimos para alguns raros. E esse raro é o que importa porque este é quem vê a
transparência de um olhar ou consegue ler cada entrelinha entrelaçada em meio
às palavras.
Sim... o mar se torna
transparente mostrando toda sua beleza. O rio, com suas curvas, gera vida e
paz. O pássaro voa livre e volta sempre. O vulcão se torna belo porque explodiu
em calor e força.
Tamanha diafanidade, contudo nos
tornam vulneráveis. Só posso dizer que vale a pena! São pequenas lagartas que
precisamos suportar para poder ver as borboletas.


