ESBOÇO (2022)
“Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço.” - Milan Kundera, “A insustentável leveza do ser”
Primeiro dia do ano! Aquele dia que muitos elegeram para “fazer acontecer”! Intermináveis listas com promessas de emagrecer, cuidar do corpo, perdoar familiares, parar de beber ou fumar ou, ainda, abrir um negócio, ser mais atencioso com a família e, quem sabe, ser mais “espiritualizado”.
Acredito que o Kundera tem razão quando afirma que “a vida parece sempre um esboço”. Não há trailer ou prévia dos dias que virão. Claro que quem já está no palco há mais tempo, tem a vantagem da experiência, contudo, como em esquetes improvisadas, nunca sabemos como será a próxima cena, como se comportarão os outros atores, quais as personas que usaremos e tudo mais.
A brilhante escritora Lya Luft, que faleceu esta semana, em seu pequeno livro “Múltipla escolha” faz essa mesma comparação entre vida e teatro. Somos atores principais, coadjuvantes, diretores, espectadores, colaboradores ou, até mesmo, fazemos parte do cenário. E o maior problema, talvez, seja nos sentirmos tão falhos e despreparados pois “se falharmos, quem haverá de nos desculpar, de nos aceitar, onde nos encaixaremos, neste universo de exitosos, bem-sucedidos, ricos e belos? Pois não se permite o erro, o fracasso, nesse ambiente perfeito” (Múltipla Escolha da Lya Luft).
Como diria meu querido poeta Fernando Pessoa, “arre... estou farto de semideuses”!!!
Sim, vivemos um mundo de tantos “exitosos” e “semideuses” que nunca “levam porrada”! “Onde é que há gente?”, continua Pessoa no seu maravilhoso “Poema em linha reta”!
Bem, também tenho algumas metas e ambições para este ano. Sem dúvida, é uma benção planejar, prospectar ou sonhar... mas, quero um pouco de pé no chão. Se a vida é esboço, somos rascunhos!
“Múltipla escolha” significa, entre outras coisas, que há portas que se abrem e se fecham e que faremos muitas escolhas certas e erradas.
O que posso desejar, portanto, é que nos próximos atos, a gente possa sorrir mais e ter muito mais leveza pois, nunca sabemos o que vem depois!
FELIZ ATOS NOVOS!

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