
EU E O BBB.
Antes de mais nada, quero dizer aos meus cinco leitores que
eu, particularmente, não assisto o BBB e que não faço nenhum tipo de juízo sobre
quem assiste. Da mesma forma que assisti “novelas globais” durante uns 30 anos
da minha vida, assisti várias edições do mais famoso “Reality Show” da TV brasileira.
Este ano temos a 21ª. Edição do programa, ou seja, são quase duas
décadas que o tal “Big Brother” acontece aqui no Brasil (o primeiro e segundo
BBB foram transmitidos em 2002, a partir de 2003, o programa se tornou anual).
Para quem não conhece a história do “Big Brother”, esse
formato de programa foi concebido pela produtora de televisão holandesa chamada
ENDEMOL. Em uma quinta-feira, no dia 4 de setembro de 1997, durante um “brainstorm”,
John de Mol, um dos sócios da empresa, teve a ideia de replicar para a
televisão o experimento da “Biosfera 2” (experimento realizado entre 1991 e
1993 onde um grupo de pessoas ficaram confinadas em um ambiente hermeticamente
fechado e que, até onde se sabe e com algumas ressalvas, foi um grande fracasso).
E o nome do Show, nem precisa de explicações, vem do “Orwelliano” mundo
distópico descrito no livro 1984, escrito por Eric Arthur Blair, mais conhecido
por George Orwell.
"Big Brother is watching you." (“O Irmão Mais Velho
está observando você.”) – No fictício mundo de 1984, todas as pessoas são
observadas e vigiadas. Enfim, assim nasceu o fenômeno mundial chamado “Big
Brother”.
FENÔMENO POP
Gostando ou não, é impossível
ficar indiferente ao que acontece na casa. Este ano, mais do que em qualquer outra
edição, acrescentou-se um elemento diferente. Uma seleção de celebridades (e subcelebridades)
foi colocada na casa junto dos anônimos, meros mortais, que buscam objetivos
diversos.
Penso que alguns “deuses” do
Olimpo Midiático desceram para estar com alguns mortais. É um encontro de
ídolos e fãs para alguns e uma baita surpresa para outros que apenas se
perguntam “esse é o famoso, quem???”.
Aqueles que estão de fora e que sempre
estão “espiando” a casa fazem um “raio-x” de cada pessoa que está lá. As crises,
as brigas, as desavenças, as paixões, as personalidades afloradas e potencializadas,
o próprio jogo, o “poder” de decidir sobre a permanência de alguém no jogo, a
interatividade, enfim... tudo isso tempera e atrai um público cada vez maior.
“VOYEURISMO”
De fato, o ser humano é curioso a
respeito do outro ser humano! Embora haja uma condução de como o programa vai
se desenrolar durante esses 100 dias, é o que está fora do roteiro que atrai o
grande público. Bisbilhotar, ouvir conversas privadas, discutir o caráter e
motivações de cada jogador (já passou a época que “seguia o coração” durante o programa),
a movimentação das peças humanas, torcer por um ou por outro, se decepcionar
com as atitudes do seu favorito, discutir ferozmente nas redes sociais defendo
seu jogador... tudo isso faz parte e que, mais uma vez, torna o programa algo
extraordinário.
PETELECO E EMÍLIA
Criado pelo famoso ventríloquo
brasileiro Oscarino Farias (que faleceu em 2018 os 80 anos), Peteleco era o
boneco que Oscarino dava vida. Mas, ora, o boneco do ventríloquo sempre exprimia
a vontade do seu criador. Embora, parecesse de personalidade tão diferente, o
boneco só fazia a vontade do seu criador.
Emília, como todos sabem, é uma
personagem criada por Monteiro Lobato. Ela, segundo a literatura, foi feita por
Tia Nastácia e para Narizinho. Ela nasceu muda, mas quando curada pelo “Dr. Caramujo”
que lhe receitou uma “pílula falante”, ela desembestou a falar, e falar e
falar... Também conhecida por "abrir sua torneirinha de asneiras".
Novelas, filmes, séries, contos,
livros... tudo isso é “Peteleco”. Por mais surpreendente que seja a trama, tudo
tem um fio condutor e roteiro de cada criador.
Reality show é “Emília”. E o BBB
é um programa com 20 “Emílias” que costumam “abrir suas torneirinhas de asneiras”
diante de milhões de pessoas que julgam cada uma de suas ações e palavras.
PSICOLOGIA, SOCIOLOGIA E COSMOVISÕES
Inegável que programas como este
acabam influenciando de alguma forma uma parcela da sociedade. Há uma proliferação
de sotaques e expressões que podem viralizar durante o tempo que o programa
está no ar.
Como fenômeno sociológico é possível
debater a respeito das representações, da individualidade, a convivência entre
estranhos que acabam formando seus grupos de afinidade.
Mas, porque as pessoas se
envolvem tanto e de forma tão emocional e, muitas vezes, de forma tão visceral?
De alguma forma, as pessoas buscam algum tipo de identificação, seja por
encontrar alguém que pensa como você, seja por alguém que você gostaria de ser
ou, ainda, por alguém que te confronta exatamente naquilo que você é.
Preciso lembrar que ali, diante
dos olhares de todos (alguns mais atentos em seus pay-per-view's e outros dependentes dos
resumos editados) estão as narrativas de cada um. Esses humanos (demasiadamente
humanos) e suas personalidades (e personas) escondem algo mais profundo que, na
concepção cristã, está dentro de cada coração. É uma questão religiosa (que
aceitando ou não, o problema está lá pois como disse Jesus, “seu tesouro está
onde está seu coração” e “a boca fala daquilo que o coração está cheio).
O Dr. Gerrit Glas (médico,
psiquiatra e filósofo holandês), influenciado por Dooyeweerd, nos dá uma pista
sobre isso quando diz que “a questão do homem é uma questão religiosa”. Sim,
existe uma questão religiosa ligada em cada fala, em cada atitude, em cada
visão de mundo.
Essa questão, que não dá para se
aprofundar aqui, remete tanto aos participantes quanto a todos que se envolvem,
ou não, com o BBB.
É importante dizer, também, que não
existe neutralidade em nada do que nos cerca. BBB é um ótimo entretenimento,
não nego isso. E podemos lançar vários tipos de olhares sobre o programa (até
mesmo “torcer o nariz” e desdenhar de quem acompanha as dezenas de narrativas
que se cruzam por ali).
Ali, não são heróis ou vilões,
são pessoas reais. São universos que se chocam! Capazes de atos virtuosos em um
momento e de “trair” em outro (afinal é um jogo e tem uma “bolada” como
prêmio). Esse choque de universos ou “cosmovisões” podem provocar aquilo que
está mais escondido dentro de cada um. Como todos os participantes dizem ao
sair: “lá dentro tudo é muito intenso”!!! São diante dos desafios, privações ou
“desertos” que o coração é provado e que se conhece do que “o outro é feito”!
E por fim, como cristão convicto e
um pouco mais vivido, eu não “demonizo” este tipo de programa. Ao contrário,
fico atento e tento ler nossa sociedade a partir disso, pois assim como o “game”
se transformou e se modificou nesses quase 20 anos, nossa sociedade com seus interesses
e pensamentos também se modificaram.
E se você leu até aqui, meu MUITO
OBRIGADO!!!
Cláudio Regis