quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

10 ANOS DE UMA MUDANÇA INCRÍVEL


10 ANOS DE UMA MUDANÇA INCRÍVEL

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“Não tenho mais a cara que eu tinha. No espelho essa cara já não é minha” – Titãs
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Preciso fazer uma confissão! Não consigo reconhecer o rosto que eu tinha há 10 anos! Embora eu lide melhor com essa estranheza hoje, houve um tempo em que eu, de fato, não conseguia me identificar no espelho.
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Sempre tive problemas com meu peso. Com a velha fórmula já consagrada que mistura uma tendência natural, hábitos nada saudáveis e uma incorrigível autoestima em níveis abissais, cheguei onde cheguei! Com apenas 35 anos, eu estava super obeso (obesidade grau III ou mórbida), com hipertensão (já considerada crônica visto que eu precisava tomar 2 remédios por dia), uma esteatose hepática grau III (Um fígado que parecia uma “picanha”) e apneia do sono (onde cheguei a parar de respirar 60 vezes em uma única noite). Não conseguia caminhar, correr, brincar com minha filha ou subir uma escada sem ficar extremamente cansado.
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Talvez, pior do que toda essa situação, era negar a realidade. Acreditar que estava tudo bem e que todas essas coisas eram normais. Mas, não eram!
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No final de 2010, acompanhando a esposa em uma consulta, conheci o Dr. Augusto, ou Guga como ele é conhecido (@augustoajr), e foi quando ele olhou para mim e perguntou se eu não gostaria de reduzir o estômago! Sinceramente, isso nunca tinha passado na minha cabeça, mas respondi “à queima roupa” que sim!
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Dali por diante, passei por todas as etapas de exames pré-operatórios e a cirurgia foi marcada para 25 de fevereiro de 2011. Surgiram várias dúvidas da família e amigos. Muitas vozes contrárias dizendo que era possível um outro caminho ou que “não daria certo” porque conhecia algum fulano que voltou a ganhar peso depois. Enfim, segurei a onda e segui em frente.
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Passaram-se exatamente 10 anos desde que “entrei na faca” (a expressão é um tanto hiperbólica visto que, externamente, foram apenas alguns furos) e as transformações não foram apenas em minha saúde. Ora, não difícil notar a “transformação” que houve em meu corpo.
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Perdi na época um pouco mais de 40kg depois da cirurgia, meu cabelo caiu e meu corpo “diminuiu”! O guarda roupa foi todo renovado e passei a olhar de forma diferente para mim mesmo. A transformação física resultou, também, em transformação interna. Como resultado disso, perdi um pouco mais da timidez tão característica e senti, também, os olhares diferentes (e vou falar de forma bem sincera, “gordofobia” existe).
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E por fim, quero agradecer, acima de tudo, a Deus por sua graça e misericórdia sobre a minha vida. Agradeço a minha família por todo apoio e amor que sempre tiveram por mim. Aos velhos e novos amigos (conheci muitos “irmãos de grampo” nessa caminhada) que sempre estão comigo. E não poderia esquecer do amigo Dr. Guga e toda sua sensacional equipe (@bariatrepb) que me acompanham até hoje.
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Que venham mais 10 anos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

"PATERNIDADE É RASCUNHO"


 

Eu sei que preciso entender o conflito. Mas, silêncio e vácuo também ferem...

Se "paternidade é rascunho", sinto-me o "rascunho do rascunho do rascunho"! Bem aquém do gostaria!

Não sei ainda se concordo com o Carpinejar... preciso buscar as oposições que fiz ao meu pai. Mas, é tarde para mim!

Confio em Deus... Ele cuida, apesar de mim!

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O QUANTO AMO MINHA FILHA PARA ENTENDER SUA IMPLICÂNCIA
Por Fabrício Carpinejar

Minha filha hoje completa 24 anos.

Minha filha não usa o meu sobrenome para não criar ligação direta comigo.

Agendar um encontro com minha filha é uma operação de guerra. Chamo para almoço, jantar, café, viagem, cinema, e costuma arrumar uma desculpa e uma urgência para não aceitar.

Minha filha não comenta os meus textos. Muito menos revela se leu os meus livros.

Minha filha não usa as redes sociais para não criar parentesco com as minhas postagens.

Minha filha me deixa no vácuo quatro dias numa mensagem – eu até uso emojis para sensibilizá-la, sem efeito.

Minha filha não atende às minhas ligações – depois de algum tempo, pergunta se eu telefonei.

Minha filha não sofre com os meus problemas - avisa que é para parar de drama.

Minha filha não se emociona com o meu abraço escandaloso na rua, pelo contrário, faz um gesto de menos.

Minha filha reclama quando beijo o seu rosto e roço as bochechas com a minha barba.

Minha filha sugere que tem vergonha de mim, e é, no fundo, orgulho. Quando o filho se opõe ao pai, significa respeito e admiração. Eu não fracassei, eduquei alguém capaz de me encarar de igual para igual e me testar para descobrir o quanto a amo.

Não me elogiar não quer dizer que ela não está me enxergando.

Na hora em que precisar, surgirá batendo à porta e oferecerá o seu colo. Não sofro do desespero de perdê-la, estou eternamente em seus traços e manias.

Identifico o seu esforço de lutar contra a saudade, e reconheço o seu mérito.

Você só tenta escapar daquilo que é importante. Ela procura construir a sua personalidade longe de minha influência.

Eu compreendo: realizei semelhante oposição aos meus pais, escritores.

A beleza do conflito é que não existe bajulação, a relação é profundamente mais sincera.

Ela vem aprendendo a se defender do mundo comprando briga em casa. Há sempre um porém. Já entendi que não está à minha sombra. Cursa Letras, porém confessa que é para seguir um caminho diferente do meu. Escreve, porém mente que não é escritora. Compõe e canta, porém guarda as suas músicas para o seu próprio prazer.

Ela não admite o quanto somos parecidos. Logo descobrirá que não somos. Ela é muito melhor do que eu. Paternidade é rascunho.

Publicado em Jornal Zero Hora em 26/12/2017.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

EU E O BBB

 


EU E O BBB.
 
Antes de mais nada, quero dizer aos meus cinco leitores que eu, particularmente, não assisto o BBB e que não faço nenhum tipo de juízo sobre quem assiste. Da mesma forma que assisti “novelas globais” durante uns 30 anos da minha vida, assisti várias edições do mais famoso “Reality Show” da TV brasileira.
 
Este ano temos a 21ª. Edição do programa, ou seja, são quase duas décadas que o tal “Big Brother” acontece aqui no Brasil (o primeiro e segundo BBB foram transmitidos em 2002, a partir de 2003, o programa se tornou anual).
 
Para quem não conhece a história do “Big Brother”, esse formato de programa foi concebido pela produtora de televisão holandesa chamada ENDEMOL. Em uma quinta-feira, no dia 4 de setembro de 1997, durante um “brainstorm”, John de Mol, um dos sócios da empresa, teve a ideia de replicar para a televisão o experimento da “Biosfera 2” (experimento realizado entre 1991 e 1993 onde um grupo de pessoas ficaram confinadas em um ambiente hermeticamente fechado e que, até onde se sabe e com algumas ressalvas, foi um grande fracasso). E o nome do Show, nem precisa de explicações, vem do “Orwelliano” mundo distópico descrito no livro 1984, escrito por Eric Arthur Blair, mais conhecido por George Orwell.
 
"Big Brother is watching you." (“O Irmão Mais Velho está observando você.”) – No fictício mundo de 1984, todas as pessoas são observadas e vigiadas. Enfim, assim nasceu o fenômeno mundial chamado “Big Brother”.
 
FENÔMENO POP
 
Gostando ou não, é impossível ficar indiferente ao que acontece na casa. Este ano, mais do que em qualquer outra edição, acrescentou-se um elemento diferente. Uma seleção de celebridades (e subcelebridades) foi colocada na casa junto dos anônimos, meros mortais, que buscam objetivos diversos.
 
Penso que alguns “deuses” do Olimpo Midiático desceram para estar com alguns mortais. É um encontro de ídolos e fãs para alguns e uma baita surpresa para outros que apenas se perguntam “esse é o famoso, quem???”.
 
Aqueles que estão de fora e que sempre estão “espiando” a casa fazem um “raio-x” de cada pessoa que está lá. As crises, as brigas, as desavenças, as paixões, as personalidades afloradas e potencializadas, o próprio jogo, o “poder” de decidir sobre a permanência de alguém no jogo, a interatividade, enfim... tudo isso tempera e atrai um público cada vez maior.
 
“VOYEURISMO”
 
De fato, o ser humano é curioso a respeito do outro ser humano! Embora haja uma condução de como o programa vai se desenrolar durante esses 100 dias, é o que está fora do roteiro que atrai o grande público. Bisbilhotar, ouvir conversas privadas, discutir o caráter e motivações de cada jogador (já passou a época que “seguia o coração” durante o programa), a movimentação das peças humanas, torcer por um ou por outro, se decepcionar com as atitudes do seu favorito, discutir ferozmente nas redes sociais defendo seu jogador... tudo isso faz parte e que, mais uma vez, torna o programa algo extraordinário.
 
PETELECO E EMÍLIA
 
Criado pelo famoso ventríloquo brasileiro Oscarino Farias (que faleceu em 2018 os 80 anos), Peteleco era o boneco que Oscarino dava vida. Mas, ora, o boneco do ventríloquo sempre exprimia a vontade do seu criador. Embora, parecesse de personalidade tão diferente, o boneco só fazia a vontade do seu criador.
 
Emília, como todos sabem, é uma personagem criada por Monteiro Lobato. Ela, segundo a literatura, foi feita por Tia Nastácia e para Narizinho. Ela nasceu muda, mas quando curada pelo “Dr. Caramujo” que lhe receitou uma “pílula falante”, ela desembestou a falar, e falar e falar... Também conhecida por "abrir sua torneirinha de asneiras".
 
Novelas, filmes, séries, contos, livros... tudo isso é “Peteleco”. Por mais surpreendente que seja a trama, tudo tem um fio condutor e roteiro de cada criador.
 
Reality show é “Emília”. E o BBB é um programa com 20 “Emílias” que costumam “abrir suas torneirinhas de asneiras” diante de milhões de pessoas que julgam cada uma de suas ações e palavras.
 
PSICOLOGIA, SOCIOLOGIA E COSMOVISÕES
 
Inegável que programas como este acabam influenciando de alguma forma uma parcela da sociedade. Há uma proliferação de sotaques e expressões que podem viralizar durante o tempo que o programa está no ar.
 
Como fenômeno sociológico é possível debater a respeito das representações, da individualidade, a convivência entre estranhos que acabam formando seus grupos de afinidade.
 
Mas, porque as pessoas se envolvem tanto e de forma tão emocional e, muitas vezes, de forma tão visceral? De alguma forma, as pessoas buscam algum tipo de identificação, seja por encontrar alguém que pensa como você, seja por alguém que você gostaria de ser ou, ainda, por alguém que te confronta exatamente naquilo que você é.
 
Preciso lembrar que ali, diante dos olhares de todos (alguns mais atentos em seus pay-per-view's e outros dependentes dos resumos editados) estão as narrativas de cada um. Esses humanos (demasiadamente humanos) e suas personalidades (e personas) escondem algo mais profundo que, na concepção cristã, está dentro de cada coração. É uma questão religiosa (que aceitando ou não, o problema está lá pois como disse Jesus, “seu tesouro está onde está seu coração” e “a boca fala daquilo que o coração está cheio).
 
O Dr. Gerrit Glas (médico, psiquiatra e filósofo holandês), influenciado por Dooyeweerd, nos dá uma pista sobre isso quando diz que “a questão do homem é uma questão religiosa”. Sim, existe uma questão religiosa ligada em cada fala, em cada atitude, em cada visão de mundo.
 
Essa questão, que não dá para se aprofundar aqui, remete tanto aos participantes quanto a todos que se envolvem, ou não, com o BBB.
 
É importante dizer, também, que não existe neutralidade em nada do que nos cerca. BBB é um ótimo entretenimento, não nego isso. E podemos lançar vários tipos de olhares sobre o programa (até mesmo “torcer o nariz” e desdenhar de quem acompanha as dezenas de narrativas que se cruzam por ali).
 
Ali, não são heróis ou vilões, são pessoas reais. São universos que se chocam! Capazes de atos virtuosos em um momento e de “trair” em outro (afinal é um jogo e tem uma “bolada” como prêmio). Esse choque de universos ou “cosmovisões” podem provocar aquilo que está mais escondido dentro de cada um. Como todos os participantes dizem ao sair: “lá dentro tudo é muito intenso”!!! São diante dos desafios, privações ou “desertos” que o coração é provado e que se conhece do que “o outro é feito”!
 
E por fim, como cristão convicto e um pouco mais vivido, eu não “demonizo” este tipo de programa. Ao contrário, fico atento e tento ler nossa sociedade a partir disso, pois assim como o “game” se transformou e se modificou nesses quase 20 anos, nossa sociedade com seus interesses e pensamentos também se modificaram.
 
E se você leu até aqui, meu MUITO OBRIGADO!!!
 
Cláudio Regis

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

ESCREVENDO À FLOR DA PELE

 



Confesso! Confesso que a “folha branca” causa-me desconforto e pânico. Da mesma forma que carrego certa “síndrome do impostor”, transfiro isso para a escrita pois tenho a mesma sensação. Sensação de ansiedade, um certo stress e de que serei “julgado” pelo impiedoso tribunal dos meus leitores imaginários. Sim, meus leitores são imaginários porque talvez eu tenha, no máximo, uma meia dúzia de pessoas que levam à sério algo que eu escreva.


O fato é que quase todos os dias escrevo alguma coisa, mas não é nada sistemático. Um comentário em alguma rede social, um insight de algo que li, uma oposição a algo que não concordei...


Dizem que escrevo bem... E como todo e qualquer elogio, minha tendência é de retração. De pensar o quanto o outro está equivocado quanto ao que escrevi. E, veja, nem sempre as ideias são minhas, me apoio “em ombros de gigantes” como dizia o célebre Isaac Newton.


“Para escrever eu preciso supor que me queres
Acreditar que desejas meu corpo magro de papel
Crer que cobiças as curvas de minhas letras
E o fruto da minha mão”

 Ana Maria Netto Machado


Em parte, meu receio está em “transgredir”! Penso no título de um livro da Lya Luft (“gigante” da literatura e da escrita) que se chama “Pensar é transgredir”. Quando pensamos e quando escrevemos cometemos desatinos dentro de nós. Tais desatinos, ou transgressões, e essa é a cerne da questão, nos colocam na “berlinda” ou diante do “grande tribunal” (Ok! Entendo que esse tribunal é imaginário, também). O desabafo, o conto, o desejo, a assimetria, as contradições, as ambiguidades, tudo... podem se encontrar no texto que ao mesmo tempo alivia e pode causar desconforto. E o desconforto está em descobrir quem somos.


“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”

 José Saramago


Escrever é sair de mim mesmo e, também, mergulhar em águas profundas. “Dangerosíssima viagem” (como bem disse Drummond) para onde estão aquelas sombras.


Por isso, escrevo “à flor da pele”. Preciso “conhecer como sou conhecido”. Porque preciso ouvir minha própria voz.


Cláudio Regis