quinta-feira, 4 de novembro de 2021

PORQUE AQUILO QUE IMAGINAMOS É DIFERENTE DA REALIDADE? (4/30)

 


PORQUE AQUILO QUE IMAGINAMOS É DIFERENTE DA REALIDADE? (4/30)


Há alguns dias, batendo papo com uma amiga, ela me abordou com essa pergunta que dá título ao texto de hoje... A princípio, por causa do curso da conversa, pensei que se tratava de algo como “teoria x prática”, mas a pergunta era um pouco mais profunda, pois se tratava da velha “expectativa x realidade”.


Bom, quero dizer algo antes... adoro teatro! E eu sinto muito por não ter tantas oportunidades de ver boas peças. O teatro, diferente dos filmes com seus (d)efeitos especiais, é muito mais lúdico e onde tudo pode acontecer. Não importa se é uma comédia, um conto, um clássico ou épico, ou até mesmo um monólogo... tudo se encaixa de forma espetacular. 


O fato é que diante do público, cada um tem seu papel devidamente definido e cada ator representa conforme o roteiro. 


Mas, a vida, embora muitos representem vários papéis, não tem um roteiro pré-definido! E a pergunta que fica é que não quer calar: estamos vivendo ou apenas representando? Vivendo ou apenas encenando?


Diante do mundo, infelizmente, temos “medo” de ser quem somos, de verdade. Queremos afeto, admiração, reconhecimento, reputação... por isso, gostamos de encobrir nossos defeitos e sombras.


Entendo que não vamos alardear nossos defeitos aos quatro cantos da terra, afinal queremos dar o nosso melhor, todavia usamos algumas máscaras (Ou serão armaduras? Lembrei do opúsculo “O cavaleiro preso na armadura”, de Robert Fisher) para não mostrar totalmente quem somos. 


Representamos bem, de modo geral! Seja no primeiro encontro, seja naquela entrevista de emprego. 


Junto, ainda, temos um grande “juiz” interno (os freudianos chamarão de “superego”) que modula nossa conduta diante do outro. Apesar disso, como diria Moe Szyslak (personagem de Os Simpsons), “ninguém presta”! Rs 


Há um bom tempo atrás, por indicação do meu terapeuta (nessa época era outro), li um livro chamado “Múltipla escolha” da Lya Luft. Apesar do título, o livro tem outra pegada. Ela compara a vida ao teatro. Ela diz que de alguma forma, todos somos diretores, atores, espectadores (e um dia quero escrever como é se sentir apenas um espectador ou coadjuvante na vida), assistentes e assim vai... e a tese dela é ótima! E, talvez, essa seja a sugestão do livro, somos e temos múltiplas escolhas conforme cada ocasião (ou será cada ato?). 


No fundo, a gente bem sabe que finge de alguma forma. Assumimos muitas “personas” (como estou “junguiano”!) para conviver bem em tantos contextos existenciais... 


Então, nos acostumamos com essa “vida” e nos perdemos de vista, também! 


Precisamos nos perguntar “quem sou eu despido das máscaras, armaduras, trajes, maquiagens??". Se tudo for tirado, o que será que sobra? 


Posso garantir uma coisa.., essa jornada não é fácil! 


Primeiramente, porque nem sempre queremos passar pelo processo! Segundo, nosso coração é enganoso (como bem disse o profeta chorão, Mano Jeremias, aquele da Bíblia) e vai encontrar desculpas para não seguirmos o melhor e mais difícil caminho. E, por último, acessar este lugar causa dor. 


No Antigo Testamento da Bíblia, especificamente no livro de Deuteronômio, Deus diz ao seu povo: "coloquei vocês no deserto para mostrar o que estava em seu coração." 


Esse é o ponto! Nem sempre sabemos do que somos feitos até que a gente entre em um deserto! São nos desertos da vida que aparece o que há de melhor e o que há de pior em nós! É no caminho inóspito que todas as máscaras caem! O tempo que isso levará, só depende de cada um! 


Mas, o que isso tem a ver com “expectativa x realidade”? Tudo! 


Dentro de nós, queremos ser “bons de cama”, “astros do rock”, “cantores de sucesso”, “pais perfeitos”, “profissionais de altíssima performance” e, às vezes, fazemos de tudo para que nos percebam assim! Lá no fundo, sabemos bem quem somos... Pobres, cegos e nus! Não queremos que vejam nossa nudez... as folhas de figueira continuam sobre nós!

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